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sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Portugueses na África do Sul preocupados com onda de violência em Joanesburgo

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Pilhagem, um possível assassinato e xenofobia estão a motivar os portugueses na África do Sul a sair de Joanesburgo. Violência chegou à Nigéria e Moçambique. Governo português pede cautela.

Os ataques são dirigidos a imigrantes de outros países africanos, mas estão a preocupar os portugueses
D.R.
Há portugueses a abandonar Joanesburgo, a maior cidade de África do Sul, por precaução na sequência da onda de violência que está a opor residentes sul-africanos e os imigrantes de outros países do continente. Em conversa com o Observador, uma portuguesa residente na Cidade do Cabo que preferiu não ser identificada diz que “a violência ainda está contida em Joanesburgo” mas que há receio que alastre a outras cidades do país: “Joanesburgo nunca foi uma cidade muito segura e isto foi a gota de água para muita gente”, argumenta.
Em declarações à RTP, Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, garantiu que “a comunidade portuguesa não tem sido vítima destes incidentes, nem no que diz respeito à segurança das pessoas nem dos bens” e que “o senhor cônsul geral não recebeu nenhum pedido de apoio específico de portugueses” em Joanesburgo — uma cidade onde vivem 68 mil portugueses.
Ainda assim, o Portal das Comunidades Portuguesas do Ministério dos Negócios Estrangeiros publicou esta quarta-feira um aviso a dar conta dos “distúrbios em várias zonas” da África do Sul: “Devem ser, sobretudo, evitadas as zonas em que se constatem aglomeração de populares ou manifestações políticas. Assim sendo, apela-se a todos os visitantes que evitem movimentações nas áreas sob risco, nomeadamente que sejam anunciadas pela Polícia sul africana; os hotéis deverão ter informação dos alertas da Polícia, bem como os órgãos de comunicação social”.
Num vídeo a que o Observador teve acesso pode ver-se um grupo de pessoas a saltar do topo de uma fábrica em chamas na tentativa de fugir ao fogo. Noutro vídeo, que pode ver aqui em baixo, as imagens mostram várias colunas de fumo e edifícios em chamas nas margens de uma estrada no centro de Joanesburgo. Há registo de pilhagens contra estrangeiros e o caso de um civil assassinado possivelmente na sequência desta onda de violência, conta a Agência Lusa.


De acordo com a portuguesa ouvida pelo Observador, os ataques xenófobos de residentes sul-africanos aos imigrantes de outros países de África já têm provocado tensões em Joanesburgo desde 2008. Mas os conflitos eclodiram este fim de semana “sobretudo porque os estrangeiros começaram a responder aos ataques na mesma moeda”: “Aqui há muito moçambicanos, muitos angolanos, muitos nigerianos. Isto parece quase uma luta de tribos. Ao início, eram atacados por xenofobia. Depois começaram a responder aos ataques”, descreveu.
Isso está a acontecer até mesmo fora de África do Sul. Um vídeo enviado por um português em Maputo mostra o discurso de um funcionário moçambicano a condenar os ataques que têm afetado os seus conterrâneos na África do Sul: “Aqui, os sul-africanos andam livremente e fazem o que quiserem. Nós não queremos saber. Mas, com esta situação na África do Sul, não podemos permitir porque está a sair do controlo. Somos todos países amigos. Vamos mandar-vos uma mensagem, sul-africanos. Não estamos a gostar desta m**** que está a acontecer. Se fizermos aos sul-africanos aqui o que nos estão a fazer lá, como é que se vão sentir?”.
Em Lagos, a maior cidade da Nigéria, os imigrantes sul-africanos começam a sofrer represálias por causa das manifestações anti-imigração na África do Sul. Num vídeo, um sul-africano explica que estava a tentar fazer compras num centro comercial quando lhe mandaram ir embora por causa da sua nacionalidade. “Esta é a resposta à xenofobia na África do Sul. Os manifestantes bloquearam as entradas do ShopRite [uma loja] e ouviram-se tiros. As coisas estão a ficar muito feias na Nigéria por causa daquilo que está a acontecer na África do Sul. As pessoas estão a fugir. As coisas não estão bem. Estão a dizer aos sul-africanos para irem embora”.


Segundo Augusto Santos, esta onda de violência tem raízes nas “manifestações espontâneas de natureza social ligada a questões de desemprego e às condições de vida”. Isso conduziu a uma “dimensão xenófoba, de os alvos de violência incluírem propriedades de pessoas ou empresas estrangeiras, designadamente nigerianos”, explica o ministro. Agora, o problema escalou ainda mais e há “redes criminosas a aproveitarem-se desta instabilidade”.
Ainda esta quarta-feira, a Confederação das Associações Económicas (CTA), a maior entidade patronal moçambicana, pediu uma intervenção para acabar com a violência xenófoba que se regista na África do Sul: “Dada a situação que prevalece na África do Sul, o setor privado apela para uma intervenção urgente dos governos de modo a pôr fim a estes tumultos”, disse Castigo Nhamane, vice-presidente da CTA, em conferência de imprensa”.
As declarações da CTA chegam pouco depois de Muhammadu Buhari, presidente da Nigéria, ter enviado um representante do governo à África do Sul para “expressar o descontentamento nigeriano pelo tratamentos dos seus cidadãos”. A embaixada da Etiópia no país também pediu cautela aos imigrantes e aconselhou os etíopes “a distanciarem-se de qualquer confronto ou conflito”. O ministro dos Transportes da Zâmbia desaconselhou viagens à África do Sul.

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